A notícia da transferência de 22 líderes do Primeiro Comando da Capital (PCC) para presídios federais agitou o noticiário policial nos últimos dias. Chamou atenção que na lista constava também o nome de Marcos Willians Herbas Camacho, o Marcola, considerado o líder máximo da facção criminosa, que foi transferido do presídio de segurança máxima de Presidente Venceslau, no interior de São Paulo, para Porto Velho, capital de Rondônia.
Esta será a primeira vez que Marcola ficará em um presídio federal. Entenda como o criminoso, que está preso desde 1999, chegou à liderança da maior facção criminosa do país.
O começo de tudo
Fundado em 1993 por oito detentos que cumpriam pena na Casa de Custódia de Taubaté, o Primeiro Comando da Capital (PCC) teve início como uma espécie de “sindicato do crime”, cujos membros juravam defender os direitos de presidiários e, sobretudo, enfrentar o sistema e a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo.
César Augusto Roris da Silva, o Cesinha, e José Márcio Felício, o Geleião, foram dois dos fundadores que ascenderam à liderança da facção criminosa, reinado que só acabou em 2002, quando um “racha” abalou as estruturas do PCC e a liderança da cúpula do crime trocou de mãos, mais especificamente, indo para as mãos de Marcola (também conhecido como Playboy), que era amigo de infância de Cesinha.
Como o “racha” aconteceu?
A história da briga mortal entre as lideranças do PCC, em 2002, ocorreu após a advogada Ana Maria Olivatto passar os números de telefones celulares de Cesinha e Geleião para que a polícia interceptasse ligações telefônicas. Para o procurador de Justiça Márcio Sérgio Christino, responsável por investigações envolvendo o PCC no Ministério Público de São Paulo e autor do livro “Laços de Sangue – A História Secreta do PCC”, foi o próprio Marcola quem pediu para que a mulher repassasse os contatos, ajudando a polícia a ligar os dois a centrais telefônicas clandestinas da facção.
Dessa forma, a administração penitenciária teria motivos para isolar Geleião e Cesinha no presídio de Presidente Bernardes, no regime disciplinar diferenciado (impossibilitados de contatar pessoas de fora), deixando o caminho livre para Marcola reivindicar a liderança plena do PCC.
Represálias e assassinatos
Na sequência, Ana Maria Olivatto foi assassinada, em outubro de 2002, provavelmente em uma represália tramada pelos líderes depostos do comando da facção. E o banho de sangue nos bastidores do mundo do crime não parou por aí.
Cesinha foi assassinado na prisão Imagem: Maurício Piffer / Folhapress Transferido para a penitenciária de Avaré, no interior de São Paulo, onde cumpria 136 anos de prisão por assaltos, homicídios e formação de quadrilha, Cesinha fundou outra facção, chamada Terceiro Comando da Capital, para rivalizar com o PCC do ex-amigo Marcola.
No entanto, de acordo com o livro “PCC – A Facção”, da jornalista Fatima Souza, Cesinha foi assassinado na prisão pelos próprios companheiros do Terceiro Comando. O criminoso foi encurralado e espancado por mais de vinte bandidos, sendo morto com um golpe no pescoço com uma “lança” improvisada com um vassoura. Indagado, um “tececeiro” (nome dado aos membros do Terceiro Comando da Capital) disse que matou o chefe porque “ele era arrogante”.
Ao contrário de Cesinha, Geleião sobreviveu às ameaças de Marcola e é o último fundador do PCC ainda vivo. Em 2003, o criminoso foi interrogado pela Polícia Civil de São Paulo e contou que sabia que Marcola era “informante da polícia”.
A “ficha corrida” de Marcola
O atual líder do PCC cumpre mais de 40 anos por roubos e assaltos a mão armada, além de ter sido condenado também pela morte do juiz corregedor Antonio José Machado Dias, ocorrida em 2003, em Presidente Prudente (SP).
Ainda de acordo com o livro “PCC – A Facção”, um psicólogo da Secretaria de Administração Penitenciária, que esteve com Marcola em muitas conversas, disse em um relatório profissional que o atual líder do PCC é “autodeterminado e lúcido, um homem de firmeza, ousadia e coragem, que teria tido uma ascensão profissional muito grande se tivesse tido oportunidade”.
Alguns números sobre o PCC
- O PCC é considerado a maior facção criminosa do Brasil, com mais de 30 mil membros. Essa informação e os demais dados abaixo constam no livro “A Guerra – Ascensão do PCC e o Mundo do Crime no Brasil”, dos pesquisadores Camila Nunes Dias e Bruno Paes Manso.
- A facção domina por completo o mercado de drogas e o sistema prisional de três estados brasileiros (São Paulo, Paraná e Mato Grosso do Sul) e tem uma influência alta em outras cinco unidades da federação (Piauí, Alagoas, Sergipe, Acre e Roraima).
- O PCC briga pelo controle das atividades criminosas em outros 13 estados mais o Distrito Federal e se encontra em clara desvantagem contra outros grupos criminosos em apenas cinco estados brasileiros (Amazonas, Pará, Tocantins, Mato Grosso e Rio de Janeiro).
- A expansão nacional do PCC teve impulso nos últimos cinco anos, quando a facção conseguiu batizar cerca de 18 mil novos membros, sendo 3 mil em cidades paulistas e outros 15 mil em outros estados.
- Atualmente, a facção está em guerra com grupos rivais, sobretudo em estados do Norte e Nordeste. Em 2018, autoridades apontaram que membros do PCC mataram ao menos 400 rivais em um período de seis meses.
- Além disso, o grupo vive uma guerra interna causada por uma disputa pelo controle do tráfico de drogas na fronteira com o Paraguai. Gegê do Mangue, que era considerado o principal líder da facção em liberdade, foi torturado e morto no Ceará em fevereiro de 2018 por causa dessa disputa.
- Estima-se que o PCC tem um faturamento de cerca de R$ 400 milhões ao ano com tráfico de drogas, roubos e outras atividades criminosas.
Por – Paulo Lima / CidadeAgoraNews