Em seu discurso de estreia na Assembleia-Geral da ONU (Organização das Nações Unidas), o presidente Jair Bolsonaro defendeu na manhã desta terça-feira (24) a soberania do país sobre a região amazônica e voltou a criticar o que chamou de sensacionalismo “instrumentalizado” para atacar o Brasil. “Meu governo tem o compromisso solene com a preservação ambiental e com o desenvolvimento sustentável.”
Ele afirmou ainda que sua política é de “tolerância zero” contra qualquer crime contra a natureza e se disse favorável a aceitar ajudas externas para explorar os recursos nacionais. “Estamos prontos para aproveitar de forma sustentável todo o nosso potencial.”
Segundo Bolsonaro, a “Amazônia permanece praticamente intocada”. Ele citou que o aumento das queimadas na metade do ano é normal por causa do tempo seco e que muitas delas são feitas por índios e pelas populações locais. Mas, apesar dessas constatações, argumenta, os dados são usados de forma “instrumentalizada” para atacar o governo e pôr em dúvida a soberania nacional sobre os recursos naturais.
“Infelizmente, algumas pessoas, de dentro e de fora do Brasil, apoiadas em ONGs, teimam em tratar e manter nossos índios como verdadeiros homens das cavernas.” Citou um representante famoso da causa indígena para atacar a defesa dos povos originais do país. “Muitas vezes alguns desses líderes, como o cacique Raoni, são usados como peça de manobra por governos estrangeiros na sua guerra informacional para avançar seus interesses na Amazônia.”
O presidente afirmou que o “sensacionalismo da mídia internacional” despertou o “sentimento patriótico” do povo brasileiro. “É uma falácia dizer que a Amazônia é um patrimônio da humanidade e um equívoco, como atestam os cientistas, afirmar que ela é o pulmão do mundo.”
Segundo ele, mente quem diz que o governo não se preocupa com o meio ambiente. “Valendo-se dessas falácias, um ou outro país, em vez de ajudar, embarcou nas mentiras da mídia e se portou de forma desrespeitosa, com espírito colonialista”, declarou, sem citar nomes, em referência ao líder francês, Emmanuel Macron.
“Infelizmente, algumas pessoas, apoiadas em ONGs, teimam em tratar e manter nossos índios como verdadeiros homens das cavernas.”
Jair Bolsonaro
Bolsonaro ainda agradeceu ao presidente Donald Trump pelo apoio ao paísna reunião do G-20, quando defendeu a soberania brasileira sobre a Amazônia. E convidou as autoridades mundiais a conhecerem o país e perceberem, assim, as mentiras ditas pela mídia de que o Brasil está devastando sua natureza.
O presidente abriu seu discurso atacando os governos socialistas, como Cuba e Venezuela. “Trabalhamos duramente para que países da América do Sul não experimentem esse nefasto regime”, afirmou.
Ele defendeu o livre mercado e as privatizações e em várias ocasiões criticou os governos petistas de Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Roussef, que o antecederam no Palácio do Planalto. Para Bolsonaro, as administrações petistas se resumiam a “irresponsabilidade fiscal, aparelhamento do Estado e corrupção generalizada”.
“Valendo-se dessas falácias, um ou outro país, em vez de ajudar, embarcou nas mentiras da mídia e se portou de forma desrespeitosa, com espírito colonialista”
Jair Bolsonaro
“A economia está reagindo ao se livrar de vícios e amarras que duraram quase duas décadas”, declarou. E acrescentou que o país está pronto para iniciar o processo de adesão à OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico).
Segundo o líder brasileiro, a missão de seu governo é combater a ideologia de esquerda, que “se instalou no terreno da cultura, da educação e da mídia, dominando meios de comunicação, universidades e escolas”.
Assembleia-Geral
O secretário-geral da ONU, António Guterres, abriu a sessão às 10h08. O diplomata português citou os problemas atuais do mundo que deveriam ter a atenção da organização, citando a possibilidade de conflito armado no Golfo, com os “inaceitáveis” ataques às instalações das usinas de petróleo da Arábia Saudita. Também relembrou o drama dos refugiados no mundo, destacando a tragédia humanitária vivida na Venezuela e a briga comercial entre China e Estados Unidos. “Hoje, temos a oportunidade de aumentar nossas ambições, utilizando tecnologias e inovações para melhorar a vida das pessoas.”
Guterres ainda entrou no tema ambiental pouco antes do discurso brasileiro. “O que antes a gente chamava de mudança climática agora a gente chama de crise climática. O que era considerado um processo de aquecimento global agora é um aquecimento intenso do globo.” Para o secretário-geral da ONU, ainda há tempo de as autoridades mundiais reverterem essa situação se trabalharem juntos.
Bolsonaro subiu ao púlpito do plenário às 10h40 e seu discurso durou cerca de 30 minutos. Inicialmente, ele agradeceu a Deus por estar vivo após o atentado sofrido em setembro de 2018 e afirmou que vem mudando o país que “esteve muito próximo do socialismo”. Ele ainda lembrou a ação do governo brasileiro acabando com o programa Mais Médicos, que, segundo o presidente, ajudava a financiar o governo cubano.
Pressão internacional
Conforme a tradição, o presidente do Brasil é o responsável pelo discurso de abertura, mas o que diferiu a reunião deste ano dos anos anteriores foi a atenção dispensada ao país.
Bolsonaro chegou pressionado a Nova York, onde fica a sede da ONU. Em seu primeiro ano de mandato, ele vem sendo bastante cobrado por autoridades e organizações de outros países e mesmo nacionais pelos números de desmatamento na Amazônia, por notícias de aumento nas queimadas e por supostamente seu governo ter a intenção de afrouxar regras de preservação da natureza, com estímulos a garimpos e posições contrárias às demarcações de terras indígenas e de áreas ambientais.
Na véspera do discurso do presidente, na segunda-feira (23), o Brasil ficou isolado do principal foro de discussão sobre meio ambiente. O encontro foi liderado pelo presidente francês, Emmanuel Macron, com quem Bolsonaro travou em setembro uma queda de braço em torno da questão ambiental. Apenas o governador do Amapá, Waldez Góes (PDT), representou o Brasil, mas sem espaço para discursar.
Enquanto Bolsonaro viajava de Brasília a Nova York, presidentes de diversos países anunciaram, em reunião da Cúpula do Clima da ONU, a liberação de US$ 500 milhões do Banco Mundial, do Banco Interamericano de Desenvolvimento e da ONG Conservação Internacional para ajudar a proteger as florestas tropicais do mundo.
O Planalto tem contestado o que chama de tentativa de intervenção e de ferir a soberania brasileira. Por causa dessa linha de argumentação, Macron foi alvo de ataques do governo brasileiro. No evento de segunda, o francês quis se mostrar aberto ao diálogo, mas criticou a ausência do Brasil, que detém mais de 60% de todo o bioma amazônico, dividido por oito países.
Fonte: R7
Por – Paulo Lima / CidadeAgoraNews