Cosme e Damião são santos dos primórdios da igreja cristã. E, a exemplo de outros santos com devoções antigas, como São Jorge, os registros sobre datas de nascimento e morte são escassos. “Isso é uma coisa que ocorre com muitos santos da antiguidade, em que não sabemos ao certo as datas de nascimento e morte. Mas, no caso deles, há uma grande probabilidade de que tenham existido, pois as relíquias estão em uma igreja em Roma. É uma devoção muito antiga”, afirma o frei Luiz Antônio Pinheiro, professor da PUC (Pontifícia Universidade Católica) de Minas Gerais.
O que se sabe é que Cosme e Damião teriam sido irmãos gêmeos que nasceram na região da Ásia Menor, que corresponde à atual cidade de Egeia, na Síria, por volta do século 3º. Ambos seriam médicos e teriam exercido a profissão de forma voluntária, não aceitando nenhum pagamento. Eles seriam cristãos, em uma época em que o Império Romano ainda não aceitava o cristianismo. Por isso, foram perseguidos e mortos a mando do imperador Diocleciano por volta do início do século 4º. O martírio, além da vida exemplar, foi o que os tornou santos.
“Foram pessoas muito fiéis a Jesus Cristo e, diz a tradição, que não sofreram nenhum ferimento por água, fogo, ar e nem mesmo a cruz. Eles, então, foram decapitados por uma espada. Morreram juntos e foram enterrados juntos”, diz o padre e professor da PUC Minas Junior Vasconcelos do Amaral. Desde então, a dupla passou a ser venerada. Os irmãos foram reconhecidos como santos a partir do século 6º. Por terem sido médicos, São Cosme e São Damião são considerados padroeiros dos cirurgiões, médicos, farmacêuticos e também das crianças, dos barbeiros e dos cabeleireiros.
E os doces?
Um dos elementos mais conhecidos envolvendo Cosme e Damião são os saquinhos de doces distribuídos às crianças em 27 de setembro. A origem do ato passa longe, no entanto, da história dos dois irmãos. “Nas religiões afro-brasileiras, eles são sincretizados com entidades infantis. E, para eles, é celebrado o dia em 27 de setembro. Se são crianças nessa associação, se distribui doces para lembrar que as crianças gostam de doces”, explica Vasconcelos.
De fato, o orixá que costumeiramente é sincretizado com São Cosme e São Damião é Ibeji, divindade que é representada por irmãos gêmeos. “Na época da colônia, o catolicismo era imposto a índios e negros, então uma forma de camuflar era venerar as entidades com as imagens de santos católicos. E isso aconteceu com Cosme e Damião, que foram identificados com orixás crianças, muito alegres. E isso ficou associado a festas e doces, principalmente no Nordeste”, conta Pinheiro.
São Cosme e São Damião são celebrados também por outras religiões. Na igreja ortodoxa grega, a data é 1º de julho; para os ortodoxos, o dia dos santos é 1º de novembro. Em 17 de outubro, também há uma celebração. Nas religiões afro-brasileiras, a data é 27 de setembro.
A partir de uma reforma no calendário católico, foi decidido que Cosme e Damião seriam celebrados em 26 de setembro. O motivo: não haver choque de datas com São Vicente de Paula, cuja morte, comprovadamente, foi em 27 de setembro —o que não há confirmação no caso dos irmãos gêmeos. Na prática, a festa no Brasil ocorre em 27 de setembro.
Por – Sara Zeba/CidadeAgoraNews